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Política X Política


por Flávio Henrique Stringueta

O mundo, a sociedade, é política, vive em torno da política. Assim, não podemos abrir mão da política.

Esse confronto que proponho no título decorre de uma visão que venho tendo da atuação de políticos em vários momentos da vida do país, o que me permitam minimizar o alcance desse instituto – política – em política má e política boa.

Quando me refiro à política boa, estou falando daquela forma de fazer política alicerçada em interesses públicos; por outro lado, a política ruim se pauta em interesses diversos da outra.

Ultimamente, parece que a má política está prevalecendo sobre a boa, levando-nos a ser cada vez mais descrente na tal classe política.

O que mais temos visto nos noticiários são resultados de “colaborações premiadas” envolvendo toda a gama de políticos – aqueles que exercem principalmente cargos eletivos –, quase não sobrando um único partido sem representante.

Quando algum novo político é citado, quando é surpreendido em atos ilícitos, costuma dizer em sua defesa, entre outras coisas, que espera que a verdade apareça. Vocês já devem ter ouvido isso inúmeras vezes.

Eu fico sempre me perguntando: será mesmo que ele quer que a verdade apareça? E a resposta que sempre me ocorre é a mesma: coitado se aparecer.

Outra pergunta que me faço sempre: será que para ser político hoje no Brasil os pré-requisitos são ser desonesto, mau caráter, antiético? E minha resposta acaba sendo sempre um sonoro sim. A polícia federal, na Operação Lava-jato, não me deixa pensar em outras respostas.

O que precisa hoje para ter um cargo político não eletivo, ou seja, qual o pré-requisito para alguém ser Ministro, Secretário (estadual e municipal), Assessor, entre outros? O sujeito tem que ter vida escorreita, boa reputação, não estar sendo processado, ser referência em sua carreira profissional, ter bons serviços prestados à sociedade? Cada vez vemos mais que não. Que o candidato ao cargo precisa somente ser… “amigo do rei ou amigo de um amigo do rei”.

O que devemos esperar então do resultado de suas ações em seus cargos senão total e irrestrito apoio às ordens do “rei”. Ações voltadas ao interesse do “rei”, não é? E a sociedade? Bom, essa, se sobrar tempo e espaço, darão alguma atenção.

Uma evidência do que estou falando está nas propostas de reforma política e da previdência. Nesta última, os idealizadores parecem estar interessados em favorecer as empresas de previdência privada, com interesses obviamente pecuniários. E na primeira, estão interessados em tirar do eleitor o direito de votar somente no candidato que entender mais preparado e probo, pois deverá votar em uma legenda, e não em uma pessoa apenas.

Com isso, os maus políticos, aqueles que estão processados em crimes contra a sociedade, poderão se eleger se estiverem nas tais legendas.

Ora, quais os interesses que estão sendo visados pelos idealizadores dessas medidas? Os da sociedade ou os seus próprios? Alguém acredita que algum político está realmente preocupado com o que dizem sobre a previdência, que, se não a reformarem, haverá um colapso deficitário?

Desculpem-me os que acreditam que sim, mas é que eu cansei de ser crédulo quando se trata de políticos. E tenho certeza que não sou eu o culpado de pensar assim. Os maus políticos me ajudam nisso se esforçando muito para denegrirem a própria imagem.

Anos atrás, fui transferido sumariamente de uma cidade do interior de Mato Grosso para a sua capital. Segundo informações que me foram repassadas à época, o motivo da remoção era político, pois, em uma investigação que presidi e que atingiu, ainda que lateralmente, políticos daquela cidade, causou a eles sérios constrangimentos sociais e despesas processuais.

Quando me vi naquela situação, que me pareceu imprópria para o período em que vivemos, conversei com o então Presidente do Sindicato dos Delegados de Mato Grosso – SINDEPO e lhe informei sobre a minha decepção com o sistema.

Na verdade, a minha decepção não era tanto com os políticos, pois que já temos provas contundentes de que esse tipo de atuação é da índole deles. Minha indignação foi com a Diretoria da Polícia Judiciária Civil – PJC – de Mato Grosso. Tentei convencer os então diretores que uma remoção naquelas circunstâncias era demasiadamente prejudicial à polícia civil, pois estariam (os diretores) dando o seguinte recado aos demais delegados da instituição: não mexam com políticos, senão serão removidos de suas cidades. Ou mexam, caso queiram ser removidos.

Não me atenderam, ou não entenderam como eu.

Voltando à conversa que tive com o então Presidente do SINDEPO/MT, eu argumentei com ele que não entendia correto que houvesse ingerência política no serviço público. Muito sabiamente, a manifestação do Presidente foi divergente ao meu entendimento. Ele me disse que a “ingerência política” no serviço público não é ruim, quando a motivação do ato político seja voltada ao “interesse social”.

E prosseguiu: se o líder político de uma região souber que um determinado servidor público não está desempenhando bem a suas atribuições, ou está descontentando a sociedade que deveria servir, a sua intromissão política na administração pública para a troca do servidor seria de muito bom grado e traria bons resultados para a sociedade que ele, ente político, prometeu também servir.

Para mim foi um novo aprendizado. Trago, desde então, essa lição que me foi transmitida pelo Dr. Dirceu Vicente Lino, então Presidente do SINDEPO/MT com quem conversei como acima relatado.

Não pedi autorização ao Dr. Dirceu Lino para usar o seu nome neste artigo, mas acredito que ele não se importará diante do meu expresso reconhecimento de sua superioridade de conhecimentos ante a minha abordagem.

Comecei, então, a ver a atuação política na administração pública, e em outros setores, de uma forma diferente, contudo mais crítica, pois fico sempre procurando o tal “interesse público” nos casos de intromissão política.

O Brasil tem uma cultura, já rançosa, de que os políticos devem ser paparicados, sendo eles chamados para eventos e colocados em lugares de destaque, como se fossem super-humanos. Com isso, os políticos acabam se colocando como acima dos demais membros da sociedade, quando, na verdade, deveriam ter eles a consciência de que tem mais obrigações do que direitos, mais obrigações com a sociedade do que qualquer outro membro dela.

Vejam que inversão temos quando comparamos as remunerações pagas a vereadores com as pagas a professores. Enquanto um país tratar a sua educação como o Brasil trata, nossa cultura não mudará e continuaremos dando mais valor aos políticos do que a profissionais mais importantes para a sobrevivência e progresso da sociedade.

Essa inversão é resultado explícito da “má política”, em que os vereadores legislam em causa própria, pensando tão somente em vantagens pessoais, esquecendo-se por completo do interesse público.

Dias atrás, assistindo a um comentário do renomado jornalista Ricardo Boechat, ouvi uma frase dele que achei que se encaixa muito bem no atual cenário brasileiro com relação às descobertas criminosas envolvendo grande parte da classe política do país. Ele assim se manifestou: “hoje nós temos que tentar separar o joio do joio”.

Fantástico, a meu ver. Segundo entendi de sua colocação, não há trigo nessa plantação de políticos, só joio. Ou o trigo é tão escasso que só se veem os joios.

Em outro artigo que redigi, mencionei que nós, eleitores, deveríamos ser mais seletivos no momento da votação, que não deveríamos escolher o “menos ruim” para nos representar, pois este também é ruim. Podemos chamar esse “menos ruim” de “joio” também, e só nós podemos impedir que ele entre na plantação de trigo.

Contudo, o que nos resta escolher nessa seara de “ervas daninhas” que nos oferecem a cada pleito eleitoral? Afinal, os melhores membros da sociedade estão se omitindo e não se candidatam aos cargos que poderiam mudar os rumos de nossa política e, consequentemente, da nossa nação.

Creio que a justificativa para essa omissão é que os bons membros da sociedade não querem ser colocados no mesmo balaio dos demais e apontados pela sociedade também como “ervas daninhas”. Deveria ser o oposto, para, assim, conseguirmos transformar o campo político em uma seara de “trigos”.

Vejo que uma das formas que temos de evitar que esses “joios” continuem no cenário político brasileiro é pararmos de aceitar o resto de suas atuações em suas esferas legislativas e executivas. Estamos muito passivos diante das agressões que estão fazendo aos nossos direitos.

Assim, caros leitores, convido vocês a tentarmos, juntos, impedir que esses “joios” se proliferem ainda mais, dilapidando os nossos direitos fundamentais e acabando com os recursos que deveriam ser destinados a fins legítimos, lícitos e de interesse coletivo.

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Flávio Henrique Stringueta é Delegado de Polícia – Gerência de Combate ao Crime Organizado – GCCO/MT

 

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